Professora Marina Melz envia e-mail para o colunista Moacir Pereira com desabafo sobre a dramática situação da educação catarinense.
“Moacir: Sei que vocês estão por dentro da questão da greve dos professores e, como cidadã, agradeço. No entanto, gostaria de sugerir uma pauta talvez ousada.
Gostaria de informar pra vocês algumas coisas que, que eu tenha visto, não foram divulgadas na mídia e são, nada mais nada menos, do que a realidade dos profissionais da educação em Santa Catarina.
Em primeiro lugar (e isso sim, já bastante divulgado) é uma grande contradição que o profissional da educação que é graduado, pós-graduado ou com qualquer outra titulação tenha um salário similar aos que tem apenas o magistério (nível segundo grau). Vamos ao exemplo: uma professora pós-graduada está em sala de aula e tem duas estagiárias trabalhando com ela. Quem prepara a aula, corrige trabalhos e, de fato, ensina, é a professora. Mais do que isso, ela tem a incrível missão de formar estes novos professores, ensinando as posturas de sala de aula. No entanto, segundo o projeto de lei apresentado pelo governo do estado, eles teriam o mesmo salário ou com uma diferença que não paga a alimentação de todos os dias.
E falando em alimentação, pouca gente sabe mas, desde que foi implementado, o vale alimentação para os professores estaduais não teve NENHUM reajuste. Isso quer dizer que os professores ganham R$ 6,00 diários. Entre si, eles chamam este grande benefício de vale-coxinha. Há professores, por exemplo, que trabalham 60 horas (de manhã, de tarde e a noite) e passam o dia se alimentando com este valor. E, claro, não podem comer a merenda escolar. Ela vai pro lixo, mas não pode ser tocada pelos professores.Como se não bastasse, em dias de atestado médico ou de licença, este valor não é pago.
Outra das boas curiosidades é que os professores daquele que já foi o maior colégio público de Santa Catarina, o Pedro II, precisam levar café e açúcar, caso queiram tomar o café. Imaginem vocês chegando ao jornal com um rolo de papel higiênico na bolsa porque o jornal não oferece. É o que acontece, literalmente. A direção da escola tem feito rifas para fazer os reparos necessários na escola. Esmolam doações para estas rifas. Se vocês entrarem na escola, verão ares-condicionados ‘gentilmente’ enviados pelo Governo Estadual nas caixas, porque a escola não tem estrutura elétrica para a instalação e muito menos dinheiro para reparos.
Outra Lei que está sendo descumprida é a dos ACTS (Contratados em caráter temporário) não devem responder por 40% do quadro de professores que o Governo precisa realizar um concurso público. No Estado, já passa de 50%. Para o Governo Estadual é excelente, já que os ACTS não tem plano de saúde e outros direitos concedidos aos professores efetivos. A nova ameaça é que os ACTS que estão em greve não serão contratados no próximo ano. No entanto, não há professores suficientes.
Gostaria de informar pra vocês algumas coisas que, que eu tenha visto, não foram divulgadas na mídia e são, nada mais nada menos, do que a realidade dos profissionais da educação em Santa Catarina.
Em primeiro lugar (e isso sim, já bastante divulgado) é uma grande contradição que o profissional da educação que é graduado, pós-graduado ou com qualquer outra titulação tenha um salário similar aos que tem apenas o magistério (nível segundo grau). Vamos ao exemplo: uma professora pós-graduada está em sala de aula e tem duas estagiárias trabalhando com ela. Quem prepara a aula, corrige trabalhos e, de fato, ensina, é a professora. Mais do que isso, ela tem a incrível missão de formar estes novos professores, ensinando as posturas de sala de aula. No entanto, segundo o projeto de lei apresentado pelo governo do estado, eles teriam o mesmo salário ou com uma diferença que não paga a alimentação de todos os dias.
E falando em alimentação, pouca gente sabe mas, desde que foi implementado, o vale alimentação para os professores estaduais não teve NENHUM reajuste. Isso quer dizer que os professores ganham R$ 6,00 diários. Entre si, eles chamam este grande benefício de vale-coxinha. Há professores, por exemplo, que trabalham 60 horas (de manhã, de tarde e a noite) e passam o dia se alimentando com este valor. E, claro, não podem comer a merenda escolar. Ela vai pro lixo, mas não pode ser tocada pelos professores.Como se não bastasse, em dias de atestado médico ou de licença, este valor não é pago.
Outra das boas curiosidades é que os professores daquele que já foi o maior colégio público de Santa Catarina, o Pedro II, precisam levar café e açúcar, caso queiram tomar o café. Imaginem vocês chegando ao jornal com um rolo de papel higiênico na bolsa porque o jornal não oferece. É o que acontece, literalmente. A direção da escola tem feito rifas para fazer os reparos necessários na escola. Esmolam doações para estas rifas. Se vocês entrarem na escola, verão ares-condicionados ‘gentilmente’ enviados pelo Governo Estadual nas caixas, porque a escola não tem estrutura elétrica para a instalação e muito menos dinheiro para reparos.
Outra Lei que está sendo descumprida é a dos ACTS (Contratados em caráter temporário) não devem responder por 40% do quadro de professores que o Governo precisa realizar um concurso público. No Estado, já passa de 50%. Para o Governo Estadual é excelente, já que os ACTS não tem plano de saúde e outros direitos concedidos aos professores efetivos. A nova ameaça é que os ACTS que estão em greve não serão contratados no próximo ano. No entanto, não há professores suficientes.
Como já comentei com alguns colegas acompanhei uma pessoa que nem um semestre de faculdade tinha, nenhum documento ou prova de formação, ser escolhido para ministrar aulas de inglês. O que ele fez foi dizer que sabia. Os quadros estão incompletos até hoje. Há professores de física dando aula de filosofia. Tudo para manter os alunos em sala de aula, ocupados. Sem falar dos filmes que são exibidos enquanto não há professores. Sabe o ginásio de esportes? É o paradeiro de turmas inteiras que não tem professor. A ordem é fingir que estão aprendendo.
As licenças-prêmio são verdadeiros castigos. Segundo a lei, a cada cinco anos em sala de aula, os professores tem direito a três meses de licença como bonificação. A verdadeira bonificação é a fome, já que o vale alimentação desta época é cancelado. Além de outros benefícios. Reduz em cerca de 25% a remuneração. Pra quem já ganha pouco, 25% é um rombo – vocês já foram apenas jornalistas, sabem disso. É comum também o boicote a este benefício, já que o governo não tem professores para colocar em sala de aula. Por exemplo, conheço uma professora que está tentando tirar esta licença há DOIS ANOS. Ela soma TRÊS licenças acumuladas. E não pode tirar porque não há substitutos.
Enquanto a meta do Ministério da Educação para os próximos dez anos é tornar atrativa a carreira de professor, para atrair bons profissionais, em Santa Catarina esta é a realidade da educação.
Repito, não sou sindicalista nem tenho nenhum tipo de relação com o Sinte. Sou uma cidadã – por sorte ou azar, jornalista – que não se conforma com pessoas que não entendem e não valorizam a legitimidade dos protestos. Muita gente pensa que o problema é o salário, sem perceber que ele é apenas a ponta do iceberg.
Desculpem pelo desabafo. Tenho certeza que vocês saberão ouvir como bons profissionais que são. Qualquer coisa, me liguem a qualquer horário. Maria Melz.”
As licenças-prêmio são verdadeiros castigos. Segundo a lei, a cada cinco anos em sala de aula, os professores tem direito a três meses de licença como bonificação. A verdadeira bonificação é a fome, já que o vale alimentação desta época é cancelado. Além de outros benefícios. Reduz em cerca de 25% a remuneração. Pra quem já ganha pouco, 25% é um rombo – vocês já foram apenas jornalistas, sabem disso. É comum também o boicote a este benefício, já que o governo não tem professores para colocar em sala de aula. Por exemplo, conheço uma professora que está tentando tirar esta licença há DOIS ANOS. Ela soma TRÊS licenças acumuladas. E não pode tirar porque não há substitutos.
Enquanto a meta do Ministério da Educação para os próximos dez anos é tornar atrativa a carreira de professor, para atrair bons profissionais, em Santa Catarina esta é a realidade da educação.
Repito, não sou sindicalista nem tenho nenhum tipo de relação com o Sinte. Sou uma cidadã – por sorte ou azar, jornalista – que não se conforma com pessoas que não entendem e não valorizam a legitimidade dos protestos. Muita gente pensa que o problema é o salário, sem perceber que ele é apenas a ponta do iceberg.
Desculpem pelo desabafo. Tenho certeza que vocês saberão ouvir como bons profissionais que são. Qualquer coisa, me liguem a qualquer horário. Maria Melz.”
Lendo o depoimento desta professora, tinha e sensação que ela descrevia a situação de nossa escola e de nossos professores, ou seja, seu depoimento retrata verdadeiramente a triste realidade da educação em nosso Estado. Só com luta e união de toda a categoria do magistério poderemos reverter esse quadro. Então vamos continuar na luta!!
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